Thelema é ou não é uma Religião?
Tradução: Fráter Dissonus. [tradução original]
Note: The original essay, ‘Is Thelema a Religion or Not?’, can be found in the original English in Fresh Fever From the Skies and online.
Faze o que tu queres será o Todo da Lei.
Uma das perguntas mais comuns sobre Thelema é se esta é ou não uma religião. Penso que esta pergunta é respondida de forma poética por alguém- quem creio ser Jake Stratton-Kent- que disse:
“Há uma religião em Thelema para aqueles que precisem. Também há liberdade da religião em Thelema, para aqueles que precisem.”
Resumindo: Sim…e não. Tudo o que posso tentar fazer é elaborar sobre esta posição para fazê-la um pouco mais clara.
Antes de aprofundar demais, deveria ser dito que- Segundo os antropólogos, sociólogos, teólogos e similares- Thelema seria definitivamente classificada como uma “religião”. Thelema tem uma “Biblia” (Liber Al vel Legis), um código moral (Faze o que tu queres), um profeta (To Mega Therion), uma serie de praticas (Magick) e também um “panteão” (Nuit, Hadit, Ra-Hoor-Khuit, Hoor-paar-kraat, etecetera). A precisão ou não desta designação é outra questão.
Poderíamos olhar inicialmente ao porque das pessoas não quererem chamar Thelema de “religiao”. A resposta é algo obvia: “religião” no século 21 se transformou em sinônimo de superstição, tirania e opressão. Não há duvida sobre isto: pelo milênio a religião organizada tem sido uma forca para todas essas terríveis coisas que são contra o Espirito da Liberdade. Varias pessoas que são mais abertas sobre “Thelema” não ser uma religião, são aquelas que experimentaram com esta superstição, tirania e opressão de primeira mão em suas infâncias, e eu pessoalmente não acho sua reação algo difícil de compreender.
Sob essa luz, podemos ver que o próprio Crowley foi cauteloso no uso do temo “religiao” para descrever a Thelema. Em uma carta encontrada noMagia(k) sem lágrimas (Magick without Tears), ele escreve:
“Para resumir, nosso Sistema é uma religião tanto quanto o entusiasmo de reunir uma serie de doutrinas, nenhuma das quais deva de maneira alguma chocar com a Ciência ou a Magia”. Chame-a de nova religião se isso agrada vossa Majestade; mas eu confesso que ignoro o ganho que você possa ter ao fazê-lo, e me sinto fadado a adicionar que você poderia causar muito mal entendimento com facilidade e trabalhar um tipo de injuria estupida.”.
Primeiramente, devemos notar que Crowley inicia sua citação dizendo que- “reunir com entusiasmo uma serie de doutrinas” de acordo com uma determinada definição de religião- Thelema é de fato uma religião. Ele então diz que chamar Thelema uma “religião” pode causar mal entendimento e injuria. Ele não explica exatamente porque isso causaria tais efeitos porem nós podemos imaginar que seja pelas razoes anteriores: isso associaria Thelema com as religiões do Velho Aeon que são faróis de superstição, tirania e opressão, por exemplo, exatamente as coisas que nos preparamos para destruir com a nossa Lei da Liberdade. As pessoas também assumem que acreditamos nas coisas que outras religiões fazem especialmente as Judaico-Cristãs-Islâmicas, como a crença em uma raça vertebrada gasosa de Deus, que é sem duvida alguma falsa.
Em resumo, podemos evitar chamar Thelema uma religião porque isso a associa com a superstição, tirania e opressão as quais a Thelema se opõem firmemente em todas as maneiras, sendo ela a Lei da Liberdade. Nossa lei é simultaneamente mais simples e mais e diferenciada que uma crença no Deus-Papai-do-Céu-Judaico-Cristão-Islâmico. Lembre-se porem, que isto implica que chamar Thelema de religião pode causar mal entendimentos e injurias, mas não implica que a designação seja fundamentalmente equivoca.
Agora vamos aos motivos pelos quais a Thelema é uma religião. Primeiro que nada, Crowley chama Thelema de religião varias vezes.
Em seu comentário sobre o Liber AL, III:22, Crowley escreve:
“Por tanto nossa religião, é para as pessoas o Culto ao Sol, quem é nossa estrela particular do Corpo de Nuit de quem, no sentido cientifico mais estrito, vem esta terra, uma faísca esfriada Dele, e toda a nossa Luz e Vida.”
Nesta linha, ele chama Thelema de religião claramente, embora haja uma ressalva de que é “para o povo”, o que podemos assumir significa “as massas” e não necessariamente para os “Eremitas”, “Iniciados” ou “Adeptos” (porem isto é, abertamente, uma suposição).
Em “The Constitution of the Order of Thelemites”, Crowley escreve que esta Ordem é contra “Toda religião supersticiosa, como obstáculos para o estabelecimento de uma religião científica”. Aqui ele chama claramente Thelema de religião, porem se opõem as “religiões supersticiosas” (aquelas do Velho Aeon e varias também surgiram no Novo Aeon). Temos um esclarecimento que a Thelema, como religião, não se opõem a ciência.
No prefácio “Editorial” de “The Equinox III: 1” (também conhecido como “The Blue Equinox), Crowley escreve uma mensagem importante:
O mundo precisa de religião. A religião deve representar a Verdade, e celebra-la. Esta verdade é de duas ordens: a primeira, sobre a Natureza externa ao Homem; a segunda, sobre a Natureza interior do Homem.
As religiões existentes, especialmente o Cristianismo, estão baseadas na ignorância primitiva dos fatos, particularmente em quanto a Natureza externa. As Celebrações devem estar de acordo ao costume e a natureza das pessoas. O Cristianismo destruiu o jubilo das celebrações, caraterizados pela musica, dança, banquetes e a tomada de amor; e tem mantido somente a melancolia.
A Lei da Thelema oferece uma religião que preenche todas as condições necessárias. A filosofia e a metafisica da Thelema fazem sentido, e oferecem uma solução aos problemas mais profundos da humanidade. A ciência da Thelema é ortodoxa; não possui teorias falsas da Natureza, nem fabulas falsas sobre a origem das coisas. A psicologia e ética da Thelema são perfeitas. Abolindo a condenada ilusão do Pecado Original, fazendo cada um único, independente, supremo e suficiente. A Lei da Thelema é dada no Livro da Lei”.
Uma vez mais, temos a Crowley chamando Thelema de religião abertamente. Ele insiste de novo que ela deve “representar a Verdade, e Celebra-la”, concordando com a citação já mencionada que insiste que a Thelema é uma “religião cientifica.”
Destas citacões, parece bastante laro que Crowley considera-com a ressalva de que ela representa e celebra a Verdade e é “cientifica”- considera Thelema uma religião. Há um ponto, além disso, que em minha opinião, esclarece todo o assunto: Thelema é uma religião porem é mais que uma religião. Devo dizer varias vezes que Thelema é um paradigma abrangente, e isto implica que Thelema é uma religião…e muito mais.
Nós já vimos indícios desta ideia em citações previas onde Crowley chama Thelema de religião enquanto também menciona a filosofia, metafisica, ciência e ética da Thelema. Em suas Confissões, Crowley transmite esta ideia que Thelema é mais que uma simples religião quando escreve:
“A Thelema indica não só uma religião nova, mas também uma nova cosmologia, nova filosofia, nova ética. Ela coordena as descobertas desconexas da ciência, de física à psicologia, em um sistema coerente e consistente. Seu alcance é tão vasto que é impossível insinuar a universalidade de sua aplicação.”
Ele diz “A Thelema não indica só uma religião nova”. Também implica uma nova cosmologia, filosofia e ética. A Thelema não se limita a pequena esfera da teologia. Esta perspectiva se reflete no fato que nós, seguindo Crowley, chamamos a Thelema de “Lei”. Esta Lei é dada no Livro da Lei. Crowley também chama Thelema de “formula.” Por exemplo, no texto “O Comeco do Mundo Novo” (The Beginning of the New World, que pode ser encontrado no recém-publicado “The revival of Magick”) Crowley escreve:
“As várias religiões do mundo perderam seu poder de guiar devido ao desenvolvimento dos meios de transporte e comercio que convenceram aos educados que qualquer religião é tão boa ou ruim quanto a outra pelo propósito de disciplina social, e que nenhuma possui validade desde o ponto de vista de fatos verdadeiros, ou verdade histórica e filosófica.
O remédio deve ser encontrado de outra forma. Uma formula deve ser encontrada, baseada no bom senso absoluto, sem uma rede de teoria teológica ou dogma, uma formula para a qual a inteligência do homem pode recusar aceitar, e que ao mesmo tempo alcance uma sanção absoluta para todas as leis de conduta, social e politica não menos que individuais, para que o certo e o errado de qualquer ação isolada ou combinada possa ser determinada, com precisão matemática por qualquer observador treinado, completamente independente de idiossincrasias pessoais. Esta formula é: “Faze o que tu queres será o Todo da Lei”.
Quando consideramos Thelema como “Lei” ou “Formula” nós estamos –antes que tudo- usando uma linguagem que é relacionada a ciência (e.g “a lei da gravidade” ou “a formula para calcular a velocidade”). Mais importante, estamos utilizando uma linguagem que é universal já que esta Lei ou Formula se aplica a todos os aspectos da vida.
Creio que a ideia que Thelema não é somente uma religião, mas sim um novo paradigma de cosmologia, metafisica, ética e psicologia é a perspectiva mais certa enquanto a se Thelema é ou não uma religião. De modo que a Thelema é uma religião, uma religião que se opõem explicitamente a superstição, a “teoria ou dogma teológico” (idealmente), e a opressão. A final de contas, o que significa o nome? A Lei de Thelema é “Faz o que tu queres” e as pessoas são livres de chama-la ou não de religião. Chama-la de religião ou não é sua escolha e que alguém escolha chama-la de religião não é de sua conta. A pergunta real, e a que realmente importa, é: Você está vivendo a Lei de Thelema? Você escreveu “Faze o que tu queres” em seu coração e mente? Você utiliza a simplicidade da Chave da Lei para destrancar as complexidades da filosofia, psicologia, teologia e do cotidiano? Em poucas palavras: você esta fazendo sua Vontade Verdadeira ou não? Em luz desta consideração central todas as outras coisas, inclusive que nomes e títulos damos as coisas, são –na melhor das hipóteses- totalmente irrelevantes e são–na pior das hipóteses- levando-nos para o mal e futilidade. Como sempre: Não há nenhuma lei além de Faze o que tu queres.
O Amor é a Lei, Amor sob Vontade.
Obs. Peço desculpas pela tradução possivelmente falha, porem acredito que é um ponto para melhorar e que outras pessoas possam melhorar o trabalho realizado aqui. Agradeço ao autor IAO131 por me permitir traduzir seus textos, e faço o convite a todos de visitar seu site, lá poderão encontrar mais traduções e um universo de artigos interessantes.